sábado, 25 de janeiro de 2014

Rasgos de um olhar...

As irregularidades de uma paisagem natural são admiráveis: a variedade de tonalidades, exacerbada pela diversidade de espécies arbóreas que cresceram sem a intervenção humana, conferem um misto de beleza e frescura a que se vem juntar a luminosidade do astro-rei.
Azuis os Montes

Azuis os montes que estão longe param.
De eles a mim o vário campo ao vento, à brisa,
Ou verde ou amarelo ou variegado,
Ondula incertamente.
Débil como uma haste de papoila
Me suporta o momento. Nada quero.
Que pesa o escrúpulo do pensamento
Na balança da vida?
Como os campos, e vário, e como eles,
Exterior a mim, me entrego, filho
Ignorado do Caos e da Noite
Às férias em que existo. 

Ricardo Reis

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Amigo

 Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».

«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!

«Amigo» é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.

«Amigo» é a solidão derrotada!

«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!
                                                         
Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Poema do Futuro- António Gedeão

Conscientemente escrevo e, consciente,
medito o meu destino.

No declive do tempo os anos correm,
deslizam como a água, até que um dia
um possível leitor pega num livro
e lê,
lê displicentemente,
por mero acaso, sem saber porquê.
Lê, e sorri.
Sorri da construção do verso que destoa
no seu diferente ouvido;
sorri dos termos que o poeta usou
onde os fungos do tempo deixaram cheiro a mofo;
e sorri, quase ri, do íntimo sentido,
do latejar antigo
daquele corpo imóvel, exhumado
da vala do poema.

Na História Natural dos sentimentos
tudo se transformou.
O amor tem outras falas,
a dor outras arestas,
a esperança outros disfarces,
a raiva outros esgares.
Estendido sobre a página, exposto e descoberto,
exemplar curioso de um mundo ultrapassado,
é tudo quanto fica,
é tudo quanto resta
de um ser que entre outros seres
vagueou sobre a Terra.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Fernando Pessoa

A espantosa realidade das cousas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada cousa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.

Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.
Hei de escrever muitos mais. naturalmente.

Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada.
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo,
Nem idéia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer cousa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade

sábado, 4 de janeiro de 2014

O sal da língua



Escuta, escuta: tenho ainda uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.
 Eugénio de Andrade

12 anos escravo

Nunca a escravatura terá sido objeto de um esforço tão metódico em reproduzir com tamanha secura a sua brutalidade intrínseca. Sob esse prisma, não admira que esta obra de Steve McQueen, que já se havia dedicado a um processo intimista de decadência com Vergonha, esteja a causar impacte nos Estados Unidos. A violência psicológica alcançada aqui faz o gore fanfarrão de Tarantino (Django Libertado) parecer uma brincadeira. - See more at: http://www.c7nema.net/critica/item/40803-12-years-a-slave-12-anos-escravo-por-roni-nunes.html#sthash.Vesxgmrt.dpuf
Nunca a escravatura terá sido objeto de um esforço tão metódico em reproduzir com tamanha secura a sua brutalidade intrínseca. Sob esse prisma, não admira que esta obra de Steve McQueen, que já se havia dedicado a um processo intimista de decadência com Vergonha, esteja a causar impacte nos Estados Unidos. A violência psicológica alcançada aqui faz o gore fanfarrão de Tarantino (Django Libertado) parecer uma brincadeira. - See more at: http://www.c7nema.net/critica/item/40803-12-years-a-slave-12-anos-escravo-por-roni-nunes.html#sthash.Vesxgmrt.dpuf
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Nunca a escravatura terá sido objeto de um esforço tão metódico em reproduzir com tamanha secura a sua brutalidade intrínseca. Sob esse prisma, não admira que esta obra de Steve McQueen, que já se havia dedicado a um processo intimista de decadência com Vergonha, esteja a causar impacte nos Estados Unidos. A violência psicológica alcançada aqui faz o gore fanfarrão de Tarantino (Django Libertado) parecer uma brincadeira. - See

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Palavras à solta



 


Solto palavras...
Como borboletas estonteantes
voam à minha volta
nuas, numa dança circular.
Eu estendo-lhes a mão,
acaricio - as com ternura.
Levemente vêm pousar
na minha folha de papel e então
a magia acontece: ganham cor,
ficam arranjadas e mais belas
de tanto olhar para elas.
Não, não é magia, é poesia
Que sai do coração e salta
para a minha mão.
                                   D.C.