sexta-feira, 11 de março de 2016

Canto dos Espíritos sobre as Águas

A alma do homem
 É como a água:
 Do céu vem,
 Ao céu sobe, e de novo tem que descer à terra,
 Em mudança eterna.
 Corre do alto rochedo a pino o veio puro,
 Então em belo pó de ondas de névoa
 Desce à rocha lisa,
 E acolhido de manso vai, tudo velando,
 Em baixo murmúrio,
 Lá para as profundas.
 Erguem-se penhascos de encontro à queda
 — Vai, 'spúmando em raiva, degrau em degrau para o abismo.
 No leito baixo desliza ao longo do vale relvado,
 E no lago manso pascem seu rosto os astros todos.
 Vento é da vaga o belo amante;
 Vento mistura do fundo ao cimo ondas 'spumantes.
 Alma do Homem,
 És bem como a água!
 Destino do homem,
 És bem como o vento!

 Johann Wolfgang von Goethe, in "Poemas"