sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Silêncio

Assim como do fundo da música
brota uma nota
que enquanto vibra cresce e se adelgaça
até que noutra música emudece,
brota do fundo do silêncio
outro silêncio, aguda torre, espada,
e sobe e cresce e nos suspende
e enquanto sobe caem
recordações, esperanças,
as pequenas mentiras e as grandes,
e queremos gritar e na garganta
o grito se desvanece:
desembocamos no silêncio
onde os silêncios emudecem.

Octavio Paz, in "Liberdade sob Palavra"

domingo, 15 de dezembro de 2013

Um olhar

Olho para o Mondego e sinto-o irrequieto
À beira do Mondego
aproximo-me para o escutar
e ouço-o  a murmurar, só que  não o entendo.
Mas a sua grandeza deixa-me a pensar:
 « como é que um simples
olhar me fez falar!»
DC

sábado, 30 de novembro de 2013

Os poetas "No silêncio louco das mães" Herberto Helder


 "No sorriso louco das mães batem as leves gotas de chuva.
 Nas amadas caras loucas batem e batem os dedos amarelos das candeias.
 Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras.
 E as mães aproximam-se soprando os dedos frios."
 As mães cedem os corpos, que agem comandados pelo afeto
. E em silêncio elas "são". Unas.
 "Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado, vendo tudo, e queimando as imagens, alimentando as imagens, enquanto o amor é cada vez mais forte."
 O Amor as acompanha desde as entranhas que abrigaram os filhos.Torna-as lindas.
 Com suavidade ou furor, sempre ternamente.
 O amor das mães é visceral. "E bate-lhes nas caras, o amor leve.
 O amor feroz. E as mães são cada vez mais belas.
 Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
 Elas respiram ao alto e em baixo. São silenciosas. E a sua cara está no meio das gotas particulares da chuva, em volta das candeias.
 No contínuo escorrer dos filhos." As mães são criaturas que os filhos geram.
 "As mães são as mais altas coisas que os filhos criam, porque se colocam na combustão dos filhos, porque os filhos estão como invasores dentes-de-leão no terreno das mães."
 As mães foram criadas por doação. E para doação.
 Um colo interminável, um tesouro que atravessa intempéries e oceanos oferecendo-se aos filhos.
  Herberto Helder

Rodrigo Leão

No silêncio, os amigos que temos guardados no cantinho do nosso coração são a nossa companhia. DC

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Hope Is The Thing With Feathers by Emily Dickinson

In this poem, Dickinson uses a Metaphor, the bird, as a symbol for hope

 

Hope is the thing with feathers
That perches in the soul,
And sings the tune--without the words,
And never stops at all,

And sweetest in the gale is heard;
And sore must be the storm
That could abash the little bird
That kept so many warm.

I've heard it in the chillest land,
And on the strangest sea;
Yet, never, in extremity,
It asked a crumb of me.


sábado, 23 de novembro de 2013

De novo a escrever...

Está hoje um dia de vento
E eu gosto do vento
a mordiscar-me o rosto
a dar-me palmadinhas nas costas
a fazer-me cócegas!
Está hoje um dia de vento
E eu gosto do vento
porque me faz rir!
DC

VER CLARO


Toda a poesia é luminosa, até
a mais obscura.
O leitor é que tem às vezes,
em lugar de sol, nevoeiro dentro de si.
E o nevoeiro nunca deixa ver claro.
Se regressar
outra vez e outra vez
e outra vez
a essas sílabas acesas
ficará cego de tanta claridade.
Abençoado seja se lá chegar.

EUGÉNIO DE ANDRADE

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

VIVE

Vive, dizes, no presente,
Vive só no presente.

Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede.

O que é o presente?
É uma cousa relativa ao passado e ao futuro.
É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem.
Eu quero só a realidade, as cousas sem presente.

Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas
como cousas.
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.

Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.

Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.


Alberto Caeiro

sexta-feira, 30 de agosto de 2013




 "Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso." Fonte: - Livro do Desassossego de Fernando Pessoa"

sábado, 10 de agosto de 2013

Sugestão de leitura



Rosa Brava é um romance baseado na investigação histórica que, por entre intrigas palacianas, traições, assassínios e guerras com Castela, reinventa, numa linguagem cativante, um dos personagens mais fascinantes da História de Portugal: Leonor Teles.

Críticas de imprensa
"Romance fervilhante de amores proibidos e intrigas palacianas, baseado numa rigorosa investigação histórica."
Expresso

domingo, 28 de julho de 2013

Soneto do amigo,Vinícius de Moraes

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

sexta-feira, 26 de julho de 2013

5º Encontro de Amigos 24-08-2013

Eis parte da letra de um dos fados de Coimbra "Coimbra tem mais encanto... na hora da despedida..."
Um hino aos tempos de estudante. A alegria de um curso terminado e a saudade de tempos idos...
Movidos pela força da amizade e para "matar" saudades do tempo, um grupo de amigos  reuniu-se  nas margens do Mondego. Entre conversas e risos, bafejados pela frescura das águas e pela brisa do entardecer, brindes à amizade que se fortalece a cada ano que passa, escreveu-se mais uma página no livro das suas vidas.
DC

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Sugestões de leitura

O verdadeiro analfabeto é aquele que aprendeu a ler e não lê.
Mário Quintana.

 Depois de ler...


 

Ler...

sábado, 6 de julho de 2013

Sonho de verão


Há sonhos coloridos, quentes e frios
E há sonhar acordada,
Ou sonhar com uma noite estrelada
e um passeio à beira mar…
 Mas o meu sonho de menina
perdura no tempo…
É um querer adiar um prazer
e ter sempre presente um objetivo de meninice
 ainda por concretizar:
acordar,  correr para a praia
e procurar a minha estrela do mar.
Ai como eu gostaria de a encontrar
 para a olhar, contar-lhe as minhas histórias
 e talvez  até tocar-lhe!
Porque me encanta a delicadeza dos seus tentáculos,
A sua cor, a leveza dos seus movimentos
nas profundezas do mar…
Fascina-me poder estender-se
sobre a brancura da areia ou roçar a dureza das rochas,
poder entrar nas grutas misteriosas e aí ficar
a escutar o murmúrio das ondas na praia
ou sentir o silêncio do fundo do mar!
 DC

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Água, vida a pulsar!



Nascente na Serra da Estrela
Água que brotas da rocha,
 fresca, pura e cristalina.
Tu és vida no meu planeta
e o teu pulsar me fascina!

De regato recatado no cantinho da rocha,
tornas -te  ribeiro
e  desces de mansinho a encosta.

A viagem alonga-se …
Outros regatos engrossam o teu caudal e
a descida torna-se sinuosa…
Aparecem os desfiladeiros e as cascatas
e adrenalina torna-se perigosa!
 Numa corrida desenfreada, desces a montanha
e chegas ao vale, numa revolta!

Finalmente, na extensa planície
deslizas lentamente em direção ao mar,
 que te aguarda, desejoso por  te abraçar!

domingo, 23 de junho de 2013

Vai alta no céu



Vai alta no céu a lua da Primavera.
Penso em ti e dentro de mim estou completo.

Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira.
Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz.

Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelo campo,
E eu andarei contigo pelos campos ver-te colher flores.
Eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos,
Pois quando vieres amanhã e andares comigo no campo a colher flores,
Isso será uma alegria e uma verdade para mim.

Alberto Caeiro

(in O Pastor Amoroso)


segunda-feira, 17 de junho de 2013

As minhas leituras

Estou a aprender a gostar de ler Saramago. Nestas memórias transparece uma clareza genuína de um percurso de vida.
"A nossa infância explica muito o que nós somos, e por isso talvez as minhas Pequenas memórias interessem àquelas pessoas que querem saber melhor quem eu sou, donde saí, quais são as minhas raízes", conclui Saramago.
  "Deixa-te levar pela criança que foste" José Saramago

José e Pilar


sexta-feira, 7 de junho de 2013

Crónicas e estórias de Alice Vieira

As crónicas escritas ao sabor dos dias têm a particularidade de serem mais sinceras do que as confissões preparadas de antemão. Alice Vieira comprova essa grande verdade

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Melancolia

Solta-se uma lágrima súbita, mas tão
                                       pro
                                 fun
                              da !
 sinto o coração  que bate sem fim
 e pulsa de  saudade e tristeza
                                           in
                                              ten
                                                   sa !
 Voa triste saudade p'ra bem longe de mim
 Deixa que a alegria se apodere de novo 
 deste coração  
                      lou
                            co!
DC