"No sorriso louco das mães batem as leves gotas de chuva.
Nas amadas caras loucas batem e batem os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras.
E as mães aproximam-se soprando os dedos frios."
As mães cedem os corpos, que agem comandados pelo afeto
. E em silêncio elas "são". Unas.
"Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado, vendo tudo, e queimando as imagens, alimentando as imagens, enquanto o amor é cada vez mais forte."
O Amor as acompanha desde as entranhas que abrigaram os filhos.Torna-as lindas.
Com suavidade ou furor, sempre ternamente.
O amor das mães é visceral. "E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz. E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo. São silenciosas. E a sua cara está no meio das gotas particulares da chuva, em volta das candeias.
No contínuo escorrer dos filhos." As mães são criaturas que os filhos geram.
"As mães são as mais altas coisas que os filhos criam, porque se colocam na combustão dos filhos, porque os filhos estão como invasores dentes-de-leão no terreno das mães."
As mães foram criadas por doação. E para doação.
Um colo interminável, um tesouro que atravessa intempéries e oceanos oferecendo-se aos filhos.
Herberto Helder
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