terça-feira, 24 de agosto de 2010

Uma Após Uma as Ondas Apressadas

Uma Após Uma
Uma após uma as ondas apressadas
Enrolam o seu verde movimento
E chiam a alva 'spuma
No moreno das praias.

Uma após uma as nuvens vagarosas
Rasgam o seu redondo movimento
E o sol aquece o 'spaço
Do ar entre as nuvens 'scassas.

Indiferente a mim e eu a ela,
A natureza deste dia calmo
Furta pouco ao meu senso
De se esvair o tempo.

Só uma vaga pena inconsequente
Pára um momento à porta da minha alma
E após fitar-me um pouco
Passa, a sorrir de nada.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa

domingo, 15 de agosto de 2010

Alma

“Na noite em que nasceste, madrugada adentro, coisas estranhas aconteceram.”

Começa assim a história de Alma. Depois dessa madrugada o destino da criança de cabelos cor de fogo estava traçado. Particularmente dotada, inteligente, sensível e com uma percepção paranormal da realidade, Alma é olhada na pequena aldeia como um ser estranho. Rejeitada pela família e pelo povo, encontra refúgio junto de uma velha mulher, a Ti Ifigénia, também ela isolada e considerada bruxa.
Um retrato impressionante do Portugal profundo dos anos 50. Um mundo rural dominado por medos, superstições e ignorância. Um mundo da capital do país em que a mentalidade burguesa desconfia de todos os comportamentos que fogem dos estereótipos da época.
A história de Alma atravessa-se com histórias de muitas vidas, seres de luz, que, mesmo num ambiente hostil e com um destino que rouba à nascença a felicidade e o futuro, iluminam caminhos. Será que vale mesmo a pena decifrar os mistérios da vida?

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

No sopé da Serra

No sopé da Serra da Estrela

Por entre arbustos e lailantes

O rio passeia contemplando

As suas margens verdejantes


As ervas alongam-se para acariciar

As águas frescas e calmas

Que parecem mudas e paradas

Como mouras encantadas


Nas margens, o ar extasiado das crianças,

Ávidas de um mergulho no rio,

Aguardam que o estômago fique vazio,

Para refrescar os corpos nus

Nas águas quentes do rio


Lá no alto, o sol brilha com todo o seu esplendor

E a terra queima como brasas…

Novos e velhos passeiam nas margens do rio

E mergulham nas suas águas

Este, em sinal de gratidão, estende - lhes o areal

E oferece-lhes a frescura das sombras


E o sol parece querer abraçar o rio,

Projectando nele os seus raios de luz

As águas adquirem maior beleza

E sorriem aos veraneantes

que passam ou repousam nas margens verdejantes


E o rio continua o seu percurso

Deslizando sereno, orgulhoso e brilhante!

DC