Os Vencidos ofereceram o mais alto exemplo moral e social de que se pode orgulhar este país. Vale a pena ler...
- E Os Vencidos da Vida, como foi que surgiu a ideia de formar o grupo?
- Uma vez, a uma mesa do restaurante Tavares, reunimo-nos alguns amigos: o conde de Ficalho, o Ramalho Ortigão, o Oliveira Martins, o António Cândido, o Carlos Lobo de Ávila e eu. Lembrámo-nos de criar uma sociedade, como muitas que havia já noutros países da Europa. Um lugar onde pudéssemos conversar, debater problemas intelectuais ... enquanto se comia. O Ramalho foi quem lançou a ideia e Oliveira Martins quem sugeriu o título, inspirado num comentário de La vie à Paris, de Jules Claretie sobre os grupos jantantes que aqui existiam. Dizia Claretie que esses jantares eram reuniões em que se encontravam os intelectuais «attristés souvent, bien changés, les uns glorieux, les autres battus de la vie». E Oliveira Martins disse: «Battus de la vie! Eis o que nós somos também - Vencidos da Vida. Propusemo-nos dar ao país «Vida Nova» e somos afinal de contas uns Vencidos da Vida». E o nome pegou. O grupo inicial cresceu. Uma noite bonita, calma, quase de luar, em vinte e seis de Março de 1889, na sala grande do Hotel Bragança todos nos reunimos. Todos excepto Guerra Junqueiro que não pudera chegar a tempo de Viana do Castelo. A meio do jantar chegou-nos um telegrama do Junqueiro, onde em versos de um grande talento e espírito nos saudava. A partir daí passou a haver um jantar semanal. Quando vou a Lisboa não falto.
- Que importância têm os Vencidos da Vida para a sociedade portuguesa? Há até quem vos aponte ambições políticas, que vai haver um governo vencidista...
- Tretas, meu amigo. Os Vencidos ofereceram o mais alto exemplo moral e social de que se pode orgulhar este país. Onze sujeitos que, desde há seis anos, formaram um grupo, sem nunca terem partido a cara uns aos outros; sem se dividirem em grupos de direita e de esquerda; sem terem nomeado entre si um presidente e um secretário perpétuo; sem arranjarem estatutos aprovados no Governo Civil; sem emitirem acções; sem possuírem hino nem bandeira bordada por um grupo de senhoras 'tão anónimas quanto dedicadas'; sem serem elogiados no Diário de Notícias, estes homens constituem uma tal maravilha social que certamente, para o futuro, na ordem das coisas morais se falará dos onze do Bragança como na ordem das coisas heróicas se fala nos onze de Inglaterra.
in http://www.vidaslusofonas.pt/eca_de_queiros.htm