quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Ler é viajar sem sair do lugar

Conjunto de crónicas de viagens de Miguel Sousa Tavares, desde São Tomé e Príncipe até ao deserto de Sahara passando pela Amazónia, entre muitos outros destinos, mas sempre a sul.

O poema de Sophia de Mello Breyner Andersen abre esta grande viagem por terras do SUL.

Deriva

Vi as águas os cabos vi as ilhas
E o longo baloiçar dos coqueirais
Vi lagunas azuis como safiras
Rápidas aves furtivos animais
Vi prodígios espantos maravilhas
Vi homens nus bailando nos areais
E ouvi o fundo som das suas falas
Que já nenhum de nós entendeu mais
Vi ferros e vi setas e vi lanças
Oiro também à flor das ondas finas
E o diverso fulgor de outros metais
Vi pérolas e conchas e corais
Desertos fontes trémulas campinas
Vi o frescor das coisas naturais
Só do Preste João não vi sinais

As ordens que levava não cumpri
E assim contando tudo quanto vi
Não sei se tudo errei ou descobri
Sophia de Mello Breyner Andersen

domingo, 21 de agosto de 2011

Boas leituras!

António nasceu marcado pelo nome. O mesmo que o vizinho da rua das traseiras, o homem que se fez doutor em Coimbra e que ia à terra sempre que podia, o tal que governava o país com pulso de ferro. Mas de pouco ou nada lhe valeu tão grande nome quando o destino o enviou para Angola, para defender a pátria em nome de uma guerra distante que não era a sua. Deixou para trás a sua terra, a mãe inconsolável e Amélia, a mulher que pedira em casamento, num banco de pedra, junto à igreja e que prometera fazer dele o homem mais feliz de Vimieiro. Promessa gravada num enxoval imaculado que ficou guardado no armário, à espera do fim daquela maldita guerra. Quando António regressou de Angola, era um homem diferente. Marcado no corpo por anos de guerra e de cativeiro e no coração por um amor impossível que deixara em pleno mato angolano. Regressava para cumprir a promessa que fizera anos antes à sua noiva Amélia, que o julgara morto, e que, em sua memória, tinha enterrado um caixão sem corpo.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sugestão de leitura

Em O sonho do celta, o vencedor do Nobel de Literatura em 2010. Mario Vargas Llosa inspira-se na vida do irlandês Roger Casement, que serviu como cônsul britânico no Congo belga no nício do século 20.A trama, que rendeu viagens de Llosa para a República Democrática do Congo e Irlanda, mistura fatos históricos e de ficção para contar a história do homem que denunciou os abusos aos direitos humanos no Congo belga e na Amazônia peruana, durante o ciclo da borracha.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Coimbra e o Penedo da Saudade




O Penedo da Saudade é um dos mais belos miradouros de Coimbra. Deste espaço romântico e paradisíaco é possível avistar a parte oriental da cidade até ao rio Mondego, a serra do Roxo e, em dias de boa visibilidade, a extremidade ocidental da cordilheira central, a Serra da Lousã com 1204 metros de altitude.
O Jardim distribui-se por diferentes patamares, num aproveitamento perfeito da topografia local. Na área adjacente à avenida, o espaço está dedicado à homenagem de algumas figuras de vulto da nossa cultura, à entrada a estátua de João de Deus, poeta e pedagogo, e, mais à frente, o busto de António Nobre, ao fundo, o de Eça de Queirós, comemorativo dos 100 anos da sua morte.
Profundamente ligado à cultura coimbrã e à sua academia, são inúmeras as placas comemorativas de eventos académicos e reuniões de curso. Verdadeiros ex-libris deste espaço, as placas mais antigas datam de 1855 e estão espalhadas por diversos pontos do Jardim. Contudo, é de visita obrigatória a “Sala dos Cursos” e a “Sala dos Poetas”.
Em cada canto existe um banco, muitos deles escavados ou integrados nos afloramentos de grés, que convidam os visitantes ao repouso, à reflexão, ou mesmo à contemplação da natureza. Espaços como a “Sala de Leitura”, proporcionam o ambiente adequado para a leitura de um livro. Os amantes da botânica podem admirar alguns exemplares da nossa flora autóctone, que se misturam com espécies introduzidas.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Ponte das Três Entradas



Vinha das margens de um rio de águas claras,
Correndo por entre alas de amieiros verdejantes,
Um Búzio feito de poemas com quadras raras
Lembrando Avé-Marias, cantadas como era dantes.

Subiu a encosta, bateu-me à porta, eu fui abrindo
E ainda surpreso, com a visita que ia chegando,
Avidamente comecei lendo e foi tão lindo,
Ver Pais e Filhos, Avós e Netos o amor cantando.

É por milagre que um Búzio sabe assim ecoar,
Longe do mar à beira de um rio de águas lavadas,
Entre montanhas que a natureza quis enfeitar
E dar de presente à Ponte das Três Entradas.
Recordando o Dr.Vasco de Campos

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Praia

Na luz oscilam os múltiplos navios
Caminho ao longo dos oceanos frios

As ondas desenrolam os seus braços
E brancas tombam de bruços
.
A praia é lis e longa sob o vento
Saturada de espaços e maresia............................Póvoa de Varzim

E para trás fica o murmúrio
Das ondas enroladas como búzios.
Sophia de Mello Breyner