Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento ...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva ...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja ...
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXI"
sábado, 20 de junho de 2015
terça-feira, 16 de junho de 2015
quarta-feira, 22 de abril de 2015
terça-feira, 24 de março de 2015
domingo, 22 de fevereiro de 2015
A minha ilha encantada (para os meus alunos)
Era uma bela manhã de inverno, o
gelo cobria os telhados e o vento frio abanava as portadas da minha janela. Há
dias que olhava para o barco do meu avô e pensei que tinha chegado o dia de
partir à descoberta da minha ilha encantada: um local com uma grande variedade
de vegetação muito verdejante, flores multicolores e perfumadas, florestas
povoadas por inúmeros pássaros exóticos e animais pacíficos.
Desci à praia, a brisa marítima
empurrava-me para a aventura e o barco deslizou pelas águas rumo ao
desconhecido. Repentinamente as ondas aumentaram e eu perdi o controle da
embarcação. Senti que o desespero se apoderava de mim quando uma enorme onda entrou
dentro do barco e perdi os sentidos.
Acordei em terra firme, a imensa
e variada vegetação colorida e o perfume que se espalhava à minha volta parecia
pura magia. Seria a ilha que eu procurava? Decidi percorrê-la de uma ponta à
outra, o sol brilhava no horizonte e quando regressava à praia vi sombras que
fugiam e ouvi murmúrios. Parei a escutar e percebi a mensagem « Bem vinda à
ilha de Oz!».
Pensei no feiticeiro e no desejo
que sentia em conhecer o seu segredo, o segredo daquela ilha e fiquei tão
feliz.
Subitamente senti as pernas a
tremer, julguei que o medo se apoderava de mim, mas depressa percebi que estava
sobre areias movediças, desatei a correr em direção ao barco e afastei-me.
sexta-feira, 2 de janeiro de 2015
Rubem Alves
Muitas velas. Muitos remos.
Âncora é outro falar…
Tempo que naveguei
não se pode calcular.
Vi as Plêiades.
Vejo agora a Estrela Polar.
Muitas velas. Muitos remos.
Curta vida. Longo mar.
.
Por água brava ou serena
deixo meu cantar,
vendo a voz como é pequena
sobre o comprimento do ar.
.
Nem tormenta nem tormento
me poderia parar.
Muitas velas. Muitos remos.
Âncora é outro falar…
Ando entre a água e o vento
Procurando o rei do Mar.
.
Cecília Meireles
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