sábado, 28 de janeiro de 2012

Vaga, no azul amplo solta

Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.

O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma.

E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.

Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.

Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

domingo, 22 de janeiro de 2012

O Velho e o Mar


"O Velho e o Mar" é, porventura, a obra-prima de maturidade de E. Hemingway.
Santiago, um velho pescador cubano, minado por um cancro de pele que o devora cruelmente, está há quase três meses sem conseguir pescar um único peixe. Vai então bater-se, durante quatro dias, com um enorme espadarte, que conseguirá de facto capturar, para logo o ver ser devorado por um grupo de tubarões.

Esta aventura poética, onde Hemingway retrata, uma vez mais, a capacidade do homem para fazer face e superar com sucesso os dramas e as dificuldades da vida real, é seguramente uma das suas obras mais comoventes e aquela que mais entusiasmo tem suscitado, ao longo de mais de meio século, entre os seus fiéis leitores. "O Velho e o Mar" recebeu o Prémio Pulitzer, de 1952, e, dois anos mais tarde, Hemingway obteve o Prémio Nobel da Literatura.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Há momentos nossos …


Neste momento de intimidade com o silêncio, as palavras fluem da alma e, plenas de ternura, saem de mansinho, pé ante pé, prontas a espraiar-se no papel, como ondas pequeninas beijando a areia branca da extensa praia deserta onde me encontro. Escrevo… ao sabor do doce e suave murmúrio das ondas, que, num vai e vem, marcam o meu compasso de escrita. Ah! A dança das ondas.
Parece que as ondas me estendem as mãos e me convidam para dançarmos juntas, quebrando esta silenciosa monotonia!
DC

A Escrita é o Desconhecido

Antes de escrever não sabemos nada acerca do que vamos escrever. Com toda a lucidez.
É o desconhecido de nós mesmos, da nossa cabeça, do nosso corpo. Não é sequer uma reflexão, escrever é uma espécie de faculdade que temos ao lado da nossa pessoa, paralelamente a ela, de uma outra pessoa que aparece e que avança, invisível, dotada de pensamento, de cólera, e que, por vezes, pelos seus próprios factos, está em perigo de perder a vida.
Se soubéssemos alguma coisa do que vamos escrever, antes de o fazer, antes de escrever, nunca escreveríamos. Não valeria a pena.
Escrever é tentar saber aquilo que escreveríamos se escrevêssemos - só o sabemos depois - antes, é a interrogação mais perigosa que nos podemos fazer. Mas é também a mais corrente.

Marguerite Duras, in "Escrever"

Letras

Escrever é pincelar o papel, dar –lhe tonalidades e, silenciosamente dar voz às palavras, ora suspiradas, ora desesperadas e abandonadas num turbilhão de emoções, soltando bravas e estridentes lamúrias interjetivas.
Escrever é rabiscar palavras e deixá-las repousar… para depois voltar a olhá-las. É imaginar lugares longínquos, recantos escondidos, onde só a imaginação tem permissão de entrar.
Escrever é reanimar espíritos ocultos, é terapia no silêncio.
DC