domingo, 18 de abril de 2010

Na margem do rio

O casario envelhecido, sobranceiro ao rio, que desliza, suavemente, indiferente a quem ainda o habita, alberga histórias muito vivas na memória das gentes que ainda por lá calcorreiam, escada acima, escada abaixo, os caminhos já gastos pelas andanças da vida. Cada degrau narra episódios, de uma longa história partilhada por todos os que habitaram no velho casario. E que histórias de pasmar, se ouvem contar!
A vida pacata de um acordar ao som do galo, mal rompe a aurora; o sol a bater nas vidraças, a pacatez do lugar perturbada pela máquina moderna, que emite sons estridentes; a azáfama das lides da terra: a sementeira, a apanha da azeitona, do milho e da batata, os cantares à desgarrada, numa noite de desfolhada, marcavam o calendário dos tempos antigos.
Nos Verões quentes, lavadeiras refrescavam os pés no rio, lavavam mantas e lençóis, branqueando as roupas amarelecidas pelo Inverno.
O rio permanece no seu leito, como que adormecido. Parece ter perdido a memória, continuando indiferente, no seu percurso em direcção à foz.
DC

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